eu tenho me esforçado para não escrever.
não quero mais, não posso…
eu relutei, mas eu preciso.
senti vontade imediata, afinal estamos vivendo tempos difíceis, tempos estranhos…eu queria não precisar falar sobre fracassos. essa fraqueza, que te derruba, mas te faz forte, ainda mais forte.
o texto poderia ser sobre a desconstrução da política nacional, e os absurdos diários, os socos que sangram o canto dos olhos todos os dias de manhã.
hoje é sobre ontem. sobre ser mulher e acreditar que um dia o machismo se afaste do cotidiano. sobre ler sobre mulheres que são violentadas. a cada 11 minutos uma mulher sobre abuso, violência e tortura nesse país.
e o que é que a gente faz, com essa dor no peito, essa queimação de se sentir impotente sobre o que acontece com uma pessoa distante, mas tão próxima. uma mulher despida de seus direitos?
eu chorei, choro desde quarta (25/05), por uma mulher que não conheço, nem sequer eu quis ver seu rosto, não faço parte da vida dela pra isso, mas…mas ao mesmo tempo sinto que preciso fazer e de algum modo faço.
sabe, tá tudo fora de contexto isso aqui, mas vocês entendem. precisava dizer palavras soltas sobre essa dor e esse sentimento de perda, de vulnerabilidade. o que é pra gente sentir? é pra ter medo? não confiar? não é pra querer ter ninguém? tá errado? então melhor a gente viver sozinha? são muitas as perguntas desconexas.
dá medo mesmo.
a gente vive nas ruas, sem horário, a gente vive. e eu tenho medo, sempre tive, de olhares, falas e violações. por que eu como mulher preciso ter medo e mais cuidado? por que não posso estar em bares? por que não posso andar sozinha?
mulheres sendo verbalmente violentadas…violentadas fisicamente. sabe, amar dá um trabalho danado, a gente abre mão, a gente chora e muitas vezes sofre machismo do homem que você imaginou que seria um parceiro, mas não é.
a gente, sociedade machista escrota, deixou uma mulher de 17 anos ser violentada por 33 homens, e o que a gente fez? chorou. se mobilizou, se uniu. o machismo e a violência contra a mulher, todos os dias. não tem graça nenhuma, Feliciano, Malafaia, Bolsonaro, não tem graça. foram 33 homens e 1 mulher. a sociedade apavora mulheres. e isso não deveria ser normal. sabe? não é, não pode ser.
eu só penso nesse mundo. meu corpo treme de pensar, de ler, de conversar no bar sobre o que aconteceu. meu coração aumenta o batimento e eu fico sem ar de pensar nessa garota, sozinha. mas eu penso em todas as mulheres, saca?
enfim.
que o coro continue gritando alto, firme e unido. que a gente reforce a desconstrução do machismo em todos os cantos. e que a gente não leia mais sobre estrupos, violações físicas e psicológicas. que a gente pare de se sentir destratada, desrespeitada e diminuída por amigos homens que se dizem “pró feminismo”. pior que machista é o amigo machista de esquerda que acha que engana bem.
mulheres, seguimos juntas, desconstruindo o machismo diário e violento de todos os dias.